terça-feira, 22 de julho de 2008

"O" Livro


Como vos disse ontem, tinha para ler um livro que o canadiano me tinha emprestado, de 250 páginas, até amanha, quarta-feira.

Ora como o tempo escasseava (felizmente, quer dizer que estou quase a ir embora!), ontem decidi começar a ler o livro e tentar chegar a meio, ou pelo menos até à pagina 100. Então, quando saí do “escritório” e fui para o quarto, decidi aparar a barba (porque hoje poderia não ter paciência e assim chego com bom aspecto à base e a Madrid), tomei banho, comi a minha frutinha e deitei-me na cama, com o portátil a tocar Jack Johnson, prontíssimo para ler.

Pela primeira vez, olhei para o livro com olhos de ver, chamava-se “The Shack” e o autor era William Young. Na contracapa era só descrições positivas sobre o livro e de vez em quando nessas descrições alguém dizia coisas sobre Deus ou religião mas achei que era tipo uma passagem ou outra, por isso arrisquei tudo e comecei a ler.

O livro começa, como quase sempre, com a apresentação da personagem principal, o Mack, que está sozinho em casa, onde trabalha fazendo vendas por telefone, e lá fora está uma enorme tempestade, com neve e chuva ocasional. Então, decide ir ao correio para ver se há alguma novidade e lá só encontra uma carta que diz:

“Mack, há quanto tempo… No próximo fim-de-semana vou estar na cabana, aparece por lá, papa”

Ora eu vejo isto e parece-me ser uma carta do pai do Mack a combinar qualquer coisa. Mas o escritor informa-me de seguida que o pai de Mack morreu quando ele tinha só 6 anos. Olá… queres ver que o Mack é amigo pessoal do Papa? E será q isto foi escrito ainda com o João Paulo ou já é do tempo do Bento? Esperar para ver…

Mas afinal não, mais à frente, o autor elucida-nos ao explicar que Papa é como a mulher de Mack (chamada Nan) trata Deus, visto ela dar algumas palestras sobre a relação entre as pessoas e Deus (ou no caso dela Papa, nome que só usa na intimidade com a família… e não, quando digo intimidade, não é quando está a fazer o amor com o Mack e diz “ai meu Papa, não pares, aí, aí, isso…”. Não é esse tipo de intimidade, embora ache que se calhar teria mais piada se o livro tomasse esse rumo!).

Conclusão, o Mack tem uma carta escrita por Deus, a combinar um encontro na cabana no próximo fim-de-semana.

Como leio muitos livros de suspense, policiais e de terror, pensei logo que íamos ter um “mind game” de algum arqui-inimigo de Mack, o que me começou a agradar, parece que o livro afinal era giro, tal como o canadiano me tinha garantido.

A pergunta que se punha agora era: “mas que cabana?”

Seguindo a minha linha de raciocínio, o autor começa a explicar o que aconteceu ao Mack há quase 4 anos atrás. Contando de uma maneira muito rápida e sucinta, o Mack foi com os 3 filhos acampar (a mulher não foi porque tinha cenas para fazer) durante 4 dias. No ultimo dia, os dois filhos mais velhos, vão andar de canoa enquanto o Mack arruma as coisas para irem embora e a filha mais nova (a Missy) está a colorir um livro. Nisto, o Mack ouve um grito e são os filhos mais velhos que viraram a canoa e estão a afogar-se. Ele corre, salva os dois e quando volta para perto da Missy, ela não está lá. Procura por todo o lado, toda a gente ajuda, autoridades, outros campistas, cenas e mais não sei o quê, até que descobrem que um adolescente, que estava de ferias com amigos, viu uma menina a ser levada num jipe. Mais buscas, o jipe é visto noutra estrada, mais buscas e buscas e finalmente descobrem uma cabana onde é encontrado o vestido da Missy coberto de sangue mas mais nada. Nem vestígios do raptor.

Mais tarde, é descoberto perto do livro de colorir da Missy um “broche” (no sentido decorativo…) de uma joaninha, joaninha essa com 5 pintas pretas na carapaça. E ao ouvir uma conversa entre policias, Mack descobre que este raptor faz sempre a mesma coisa, deixa uma joaninha no local do rapto, sendo que a pintas estão sempre a aumentar, 5 pintas quer dizer que é a quinta menina e não há o mínimo vestígio das outras meninas.

E pronto, estava a gostar! Sim senhor, o autor escreve bem, a historia não é maravilhosa mas estava a correr tudo bem. Já ia com 75 páginas e nem era muito tarde, siga com a história.

O enredo volta então à realidade onde vemos Mack sem saber o que fazer… Mas por acaso, a mulher vai passar o fim-de-semana fora com os miúdos e então ele aproveita e vai mesmo até lá à cabana. Pede o jipe a um amigo e uma pistola, não fosse aquilo ser algum tipo de ratoeira.

Estava a aquecer, pensei eu. Viagem até à cabana… chega à porta, pergunta aos berros se está ali alguém, ninguém responde… começa a ir embora, sem perceber bem porque foi ate lá, o que esperava encontrar. Mas aqui é que as coisas viram…

De repente, ele sente um bafo quente pelas costas (não, nada de paneleirices…) e a paisagem começa toda a mudar, a tempestade dá lugar ao verde dos montes, o cheiro das flores, bla bla bla bla… comecei logo a sentir uma comichão… estava a descambar…

Tinha ficado tudo primaveril à volta do Mack. Ele volta atrás e entra em casa, onde vê uma mulher preta vestida como empregada doméstica e pergunta-lhe o nome e ela responde “Papa”, depois entra uma asiática à qual ele pergunta o nome e ela responde “há quem me trate por Jesus” e para acabar com o ramalhete, entra um árabe com ar de marceneiro que diz que se chama um nome estranho qualquer que felizmente já não me lembro…

As conversas com estas pessoas continuaram, a falarem sobre bondade, a Humanidade, a vida de Mack, a Missy, etc, até houve uma altura em que Mack pergunta à preta:

“-És Deus?”

Ao que respondem os três em uníssono “-Sim!” ?!?!?!?!!?!??!!? O que é isto?!?!!?

De repente, senti que estava à porta de minha casa a receber testemunhas de Jeová ou que tinha entrado, por engano, numa missa da IURD… medo! Senti uma lavagem cerebral a vir a caminho, tudo o que estava escrito na contra capa começou a fazer sentido, pensei que estava outra vez a fazer a primeira comunhão, onde menti ao padre a dizer que me porto muito bem e que não dava cabo do juízo aos meus pais…

Dei a noite por terminada, dei por gastas duas horas e tal do meu serão e acho que tive pesadelos à pala daquilo… medo… muito medo…

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