Estava farto.
Há anos que era sempre a mesma coisa. Tinham sido uns últimos anos dificeis e cada que passava parecia pior. Se há 40 ou 50 anos atrás era tudo rosas, agora a situação já tinha mudado radicalmente.
Antes, há muito tempo, toda a gente o adorava, toda a gente andava com ele, novos ou velhos, ricos ou pobres, pais e filhos, era bem andar com ele, era sempre visto como uma boa influência. Mas há uns anos para cá começou-se a ouvir umas histórias, uns rumores, umas difamações, pensava ele.
Dizem que tudo começou nos Estados Unidos, afinal, nos dias que correm, quase tudo começa lá, a burrice, os exageros, as guerras, as tecnologias, o cinismo, a hipocrisia, enfim tudo, quase tudo e poucas coisas se aproveitam.
Mas foi lá, que tudo começou. Houve um primeiro caso, uma primeira averiguação, uma primeira ida a tribunal e lá está, o inevitável, mais tarde ou mais cedo tinha que acontecer, a primeira derrota ou dito de outra maneira, a primeira vitória de todos que estavam contra ele.
Esses, que antes tão amigos e seus defensores que eram, agora viram-lhe as costas e nos piores casos tentam matá-lo, extingui-lo completamente. Ele ainda se lembra quando andava nas bocas de todo o mundo, nas rádios, nos jornais, na TV (onde já havia), nos cinemas, em todo o lado. Eram raros os que não gostavam dele. E agora? Onde andavam eles?... Recorda com saudades os jantares, as festas, os restaurantes caros, os anúncios, a gente famosa que o procurava e o conforto que dava a todos, sem olhar a estatuto ou idade.
Desde a primeira derrota a sua vida foi sempre a descer, a piorar. Agora sente-se mal ao pé de muitas pessoas, lugares públicos fazem-lhe confusão, sente que toda a gente lhe lança olhares reprovadores, sente vergonha na rua e há mesmo muitos sitíos que deixou de frequentar. Agora pouco lhe resta, poucas pessoas ainda gostam dele e parece que cada dia que passa mais o abandonaram. Há anúncios, artigos, publicações, teses, apresentações, tudo e de todas as maneiras que se pode dizer mal de alguém, há sempre uma voz contra ele, que depressa se torna duas vozes, depois cinco e quando damos conta são às dezenas e centenas.
Por isto tudo, e muito mais (que ele prefere nem se lembrar ou por vezes tenta nem saber), decidiu terminar com a sua vida. Achou que era a maneira que todo este sofrimento iria terminar, só restava saber quando. Por isso, tinha decidido facilitar a vida a todos e ia ele acabar o trabalho que alguns tinham começado há muito tempo e que muitos pareciam determinados a conseguir. Apenas uma dúvida parecia atormentá-lo, de que maneira iria acabar com o sofrimento. Queria acabar com tudo depressa, sem dor, sem muitos vestigíos, sem restos... Andava indeciso entre usar um isqueiro ou um simples fósforo...
Senti que ambas as maneiras eram dignas, mas o fósforo já não está na moda, já quase ninguem o usa, só mesmo em último caso, como última alternativa. Agora quase todos preferem um isqueiro, parece que há sempre um por perto, que todas as pessoas têm um.
Mas ele sente-se mais ligado ao fósforo, é “à antiga”, lembra-o dos bons tempos, quando era feliz e fazia feliz todos à sua volta.
Estava então decidido!! Seria com o fósforo!!
Acendeu um fósforo e pegou fogo a si próprio. Começou pela cabeça e chama extendeu-se para baixo, percorreu todo o seu corpo, começando na cabeça, até chegar ao fim, ao filtro.
E assim ardeu o cigarro, assim foi o seu fim.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
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