sábado, 30 de agosto de 2008

Defeitos

Eu, como todas as pessoas, tenho muitos defeitos.

Um dos meus maiores e que nao consigo mudar, é avaliar mal as pessoas à primeira vista.

Há sempre pessoas que nao gostamos, há pessoas com que embirramos, há caras que nos irritam, há andares que sao ridiculos de mais para podermos simpatizar com determinada pessoa.

Eu embirro muito com as pessoas. Talvez seja uma continuaçao do meu aparente ar antipático, talvez seja a continuaçao do meu aparente ar de indiferente para todo o resto do mundo.

Geralmente, quando conheço alguém pela primeira, sou moderadamente simpático, procuro ser acessível, sem contar a minha vida nem desfazer-me em sorrisos, afinal, há uma postura a manter.

E o que tenho do outro lado? bem, depende de pessoa para pessoa, mas o que me acontece muitas vezes é o seguinte...

Eu e a outra pessoa somos apresentados e depois dos cumprimentos habituais, segue-se aquele conversinha de quem nao sabe o que dizer...

O melhor é contar-vos brevemente o que me aconteceu há quase 3 semanas.

Cheguei aqui ao meu lugar de trabalho do costume e quando estava ao telefone com alguem, provavelmente a minha maezinha, senta-se um gajo na cadeira que está ao meu lado e começa a mexer no computador do meu chefe, como se fosse o dono daquilo tudo, sem dizer nada aqui a este vosso amigo... "Nao começa bem" achei eu daquilo... Após uma mudança estratégica de posiçao, reparo que ele tem Repsol escrito nas costas... "um dos meus" pensei eu, afinal, nao deve ser má pessoa, joga na minha equipa!

Desligo o telefone e dirijo-me para ele, de mao estendida e digo o meu nome. Ele era o Dixon, Dixon Fernando, nome que ele nao sabe de onde vem, embora me tenha dito que a avó materna, pessoa de onde NAO vem este nome, tinha ascendência espanhola...

O Dixon é da India (bastava olhar para ele, para calcular que ou vem da India ou vende rosas no Bairro Alto), tem 43 anos, tem dois filhos e é casado.

Perguntou-me quantos anos tinha (28), se era casado (nao) e se tinha namorada (nao). Ar de espanto!!! "Nao tens namorada?" pergunta ele admiradíssimo. Estive indeciso entre pedir-lhe desculpa por nao ter ou agradecer o elogio, por ele estar a dar a dica que era giro demais para estar solteiro...

"E entao porque tanto espanto? Já devia estar casado?" pergunto eu na maior das inocências...

"Aos 28 anos já devias ter a família formada, com filhos, com mulher, casa e essas coisas todas..."

Bem, da casa estou a tratar disso, do resto, faz-se o que pode mas nem sempre as coisas como se querem...

E pronto, foi o suficiente para ele se sentir à vontade e toca a contar tudo... Vive com os dois filhos, a mulher e a mae dele, na India. A mulher nao trabalha, nem ele queria que ela trabalhasse. A mulher está em casa, a tratar ds filhos e da mae dele.

Depois veio a pergunta do costume, "até quando pensas trabalhar neste mundo do petroleo, em que passas metade do ano longe de casa?"

Disse que queria trabalhar uns 12 ou 15 anos assim, até estar a ganhar muito dinheiro e ter muita experiência e conhecimento e depois ir trabalhar para Portugal, nos escritórios, talvez com um MBA ou coisa do género, talvez dar aulas sobre petróleo na minha FCUL e coisas dessas...

Ele responde "Ah, eu vou só trabalhar mais 2 ou 3 anos, talvez até aos 45, porque depois tenho que ir para casa, para ajudar o filho mais velho, porque ele agora precisa de ajuda".

Bem, se precisa de ajuda, fiquei sem saber quantos anos tinha o filho, talvez fosse bebé e fosse para ajudar em casa. "Quantos anos tem o teu filho?"

"Tem 15 e daqui a uns anos tem que escolher a Universidade que vai e eu quero ajudá-lo nisso!"

?¿!¡?¿!¡

A pobre da mulher teve que criar os 2 filhos sozinhos, que afinal têm 12 e 15 anos e ainda por cima toma conta da mae dele... e ele está preocupado em ajudar o filho a escolher a Universidade... Ele passa metade do ano em casa, nessa altura nao tem tempo livre para ajudar o filho? e além de que a maneira como ele disse aquilo, era que ele ia CONVENCER o filho para que Universidade e curso era melhor ele ir... sao prioridades... :S

Mas, se esquecer estes pormenores, ele pareceu ser muito simpático, disse que se eu tivesse alguma dúvida que ele explicava, disse que eu devia ir fazer a "ronda" com ele amanha para aprender mais umas coisas e cenas assim...

Pensei "Cá está mais um indiano simpático". Por acaso, todos os indianos com quem tive possibilidade de manter conversas (no plural) sempre me pareceram extremamente simpáticos e bem dispostos.

E o que entrou agora aqui? a minha péssima capacidade de julgamento.

Após algumas conversas, apercebi-me que ele era um dos maiores chatos do mundo. Nao se cala, está sempre a repetir-se, acha que faz e acontece mas na verdade ninguem liga peva ao que o gajo diz, nao tem autoridade sobre ninguem and so on and so on... Resumindo, é capaz de estar a falar durante uma hora e nao dizer uma frase com interesse!

Nao deixa de ser simpático, mas é um chato do pirilau!!!

É sempre assim, quando eu acho um gajo (ou menina) super simpáticos à primeira vista, deixo-me enganar sempre e passado umas conversas começo a ver que as coisas nao sao bem assim, as pessoas ou sao super chatas ou uns grandessíssimos apanhados da cabeça!!

E agora, há apenas alguns minutos, aconteceu-me o contrário. Havia aqui um velho, que anda sempre com um ar de quem manda no mundo, que se está a cagar para tudo e todos mas... fiz-lhe um favor por causa de um telefonema que ele recebeu e de repente era só obrigados e salamaleques, já sabe o meu nome e tudo (o que para eles é um bocado de dizer).

Está provado que posso ter uma ou outra coisa boa, mas a "capacidade de julgar as pessoas à primeira vista" definitivamente nao é uma delas...

(o Dixon, era o Well Testing Engineer, o que quer dizer que era um dos gajos com mais poder e responsabilidade aqui no furo... mas .... mas... ganha menos que eu!! Ao menos fiquei contente por saber que o chato ao fim do dia, ficava com menos dinheiro no bolso que eu... Acho que a minha margem positiva, deve ser para compensar o que eu tenho que aturar com estas personagens todas!!)

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